Era uma vez um
menino, que encontrou alguém e esse alguém sorriu pra ele. Eles falavam de
temas transversais e descontínuos, riam das mesmas piadas e se abraçavam em
ligações que viravam as noites. A confiança foi estabelecida e o menino estava
falando para ela o que estava dentro dele, o que ninguém sabia. E ela fazia o
mesmo, abriam feridas para finalmente cicatrizarem, juntos.
Era um bálsamo
aquelas conversas. Carlos, que era sempre fechado, sempre se embaralhava quando
ia contar um segredo e chorou na noite que mostrou a Elza o seu lado mais
escuro. Elza era levada, brincava com tudo e encucava com a mania dele de ser
ele. Ela não tinha um lado mais escuro porque todos os seus lados estavam
debaixo da luz, e a única escuridão estava em sua sombra que não se formava, ou
via.
E assim eles
passaram as semanas. Com sorrisos tortos e silêncios que preenchiam as ondas
das ligações com sentimentos que não seriam encontrados em todas as palavras
que uma onda pode levar. E ele aprendeu a confundir o que pensava sobre ela. O
que pensava sobre ele mesmo.
Elza não queria
saber dos outros, estes que se encontrassem na fila que existia atrás de
Carlos. Eles viviam em uma bolha que se formava ao redor deles. Conversavam
sobre o futuro e faziam planos de conhecer todos os locais criados pelo homem,
todos os locais que seus pés pudessem levar, todas as pedras da cidade...
E as decisões
chegaram. O clima mudou, o tempo e a sensação dele. A distância que se formava
espaçava a bolha e criava buracos como os da camada de ozônio, em que não se
percebe os danos até que se sinta os primeiros sintomas dos raios que atravessaram
aquele espaço.
E Carlos se
sentia sozinho e tinha apenas uma foto tirada em sua polaroid para lembrar do
sorriso de Elza. Mas Elza mudou, ela não fez por maldade... mas sua vida
parecia funcionar sem ele, e acabou por funcionar.