domingo, 18 de outubro de 2015

Pedido de Desculpa

Fortaleza, 18 de outubro de 2015.


Queridos Leitores;

A todos aqueles que esperavam indiretas, ofereço minhas sinceras desculpas. Esta carta nada mais é que um exercício de escrita que advém de uma pequena reflexão após ter recebido diversas mensagens perguntando se o que eu escrevia se referia àquela tarde em que conheci Marcela ou ao final de semana em que passei numa casa de praia em 2009.
Gostaria de dizer que o que escrevi foi em busca da identificação de quem me lesse, e as associações geradas são de total responsabilidade de quem as faz, cabendo ao leitor decidir ao que deve se agarrar do texto. Mário de Andrade em uma de suas cartas a Drummond afirmou que sofria de “gigantismo epistolar” e tal qual ele me isento de culpa, uma vez que sinto muito mais do que as situações me permitem sentir e vivo intensamente tudo aquilo que passa a existir no campo de minhas emoções.
Gostaria de poder lhe confortar dizendo que sim, o que escrevi teve influências de algo que compartilhei com você. Mas cada linha escrita possui influências de tudo o que tive como referência na construção de quem sou. E seria injusto me limitar a uma memória turva, quando parece que tudo o que lembro já foi romantizado por algum escritor fantasma que arquiva minhas memórias. (Ah, quem me dera fosse Mário)
Sinta-se convidado a refletir, imaginar e criar tudo aquilo que possa ser desenvolvido através dessas postagens, mas tendo em mente que o que escrevi e escrevo fala de tudo o que sinto e gostaria que outros sentissem. E aos que torcem para que no fundo sejam indiretas, calma, um dia você vai abrir aquela velha ferramenta de mensagens chamada e-mail e vai ter algo escrito exclusivamente para você, nesse caso, se isente de dúvidas.

Um Grande Abraço.


Pedro Palácio

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Eu na Cidade

Diego acordou como se o peso das suas indagações estivera em cima do seu corpo a noite inteira. Revirou-se durante a madrugada e acordava de um sono tão interrupto quanto os ônibus que tomara naquela semana.
Foi até a janela e olhou para a cidade. Olhou para o horizonte que se deparava todas as manhãs e sentiu-se perdido. Onde se encaixaria naquela cidade? Existia um local escondido numa praça do centro em que seu nome estava escrito? No momento da descoberta, uma luz o banharia acompanhada de trilha sonora?
Calçou um chinelo e decidiu sair em busca de conhecer o espaço que sabia localizar, mas não se permitia viver. Desceu as ladeiras que levava até a beira do mar e começou a prestar atenção nos detalhes que passavam despercebidos pelos seus sentidos.
Nunca havia notado a quantidade de vezes que a palavra “mar” aparecia nos endereços da orla daquela cidade. Seria essa uma forma desses lugares encontrarem um espaço para si assim como ele procurava um lugar que pudesse chamar de seu?
Decidiu contar quantas vezes o “mar” aparecia nos letreiros e fachadas, assim como iria notar os detalhes das ruas e das pessoas que passassem. Cinco. Foi o número que gravou antes de atingir metade do percurso. Seguiu andando e as pessoas pareciam diferentes. Elas se diferenciavam naquele dia por ele estar olhando com novos olhos para a situação?
Treze.  Já se passaram muitos hotéis, restaurantes e pousadas. O mundo acontecia para as pessoas nesses espaços como estava acontecendo para ele? Respirou fundo, tirou um cigarro do bolso e acendeu com o número 19 em mente.
Achou um banco que repousava na sombra de um coqueiro e sentou-se enfiando os pés na areia que estava quente mesmo estando abrigada do sol. Tal qual sua mente, fumegando de ideias mesmo quando seu corpo agora descansava.
Desistiu de fumar no meio do cigarro como descartara sentimentos que lhe queimavam por dentro. Desejava, intimamente, conhecer milhares de lugares e em contrapartida não se dava ao trabalho de conhecer o local que chamava de lar. Afinal, não respondia “Fortaleza” quando lhe perguntavam de onde vinha? E como odiava aquelas perguntas. “Quais locais devo ir lá? ” “O que tem para se conhecer na sua cidade? ”.
- Com licença, que horas são moço? – Perguntou uma senhora sem tirar o canudo da água de coco da boca.
- Oito e Vinte.

Interrompido de seus pensamentos, decidiu voltar. Tinha saído para conhecer mais da cidade e acabou por descobrir curiosidades sobre si mesmo. Embora houvesse percebido que odiava determinadas perguntas que lhe arranjavam, odiava ainda mais as que ele mesmo se fazia.