Diego
acordou como se o peso das suas indagações estivera em cima do seu corpo a
noite inteira. Revirou-se durante a madrugada e acordava de um sono tão interrupto
quanto os ônibus que tomara naquela semana.
Foi até a
janela e olhou para a cidade. Olhou para o horizonte que se deparava todas as
manhãs e sentiu-se perdido. Onde se encaixaria naquela cidade? Existia um local
escondido numa praça do centro em que seu nome estava escrito? No momento da
descoberta, uma luz o banharia acompanhada de trilha sonora?
Calçou um
chinelo e decidiu sair em busca de conhecer o espaço que sabia localizar, mas
não se permitia viver. Desceu as ladeiras que levava até a beira do mar e
começou a prestar atenção nos detalhes que passavam despercebidos pelos seus
sentidos.
Nunca
havia notado a quantidade de vezes que a palavra “mar” aparecia nos endereços
da orla daquela cidade. Seria essa uma forma desses lugares encontrarem um
espaço para si assim como ele procurava um lugar que pudesse chamar de seu?
Decidiu
contar quantas vezes o “mar” aparecia nos letreiros e fachadas, assim como iria
notar os detalhes das ruas e das pessoas que passassem. Cinco. Foi o número que
gravou antes de atingir metade do percurso. Seguiu andando e as pessoas
pareciam diferentes. Elas se diferenciavam naquele dia por ele estar olhando
com novos olhos para a situação?
Treze. Já se passaram muitos hotéis, restaurantes e
pousadas. O mundo acontecia para as pessoas nesses espaços como estava
acontecendo para ele? Respirou fundo, tirou um cigarro do bolso e acendeu com o
número 19 em mente.
Achou um
banco que repousava na sombra de um coqueiro e sentou-se enfiando os pés na
areia que estava quente mesmo estando abrigada do sol. Tal qual sua mente,
fumegando de ideias mesmo quando seu corpo agora descansava.
Desistiu
de fumar no meio do cigarro como descartara sentimentos que lhe queimavam por
dentro. Desejava, intimamente, conhecer milhares de lugares e em contrapartida
não se dava ao trabalho de conhecer o local que chamava de lar. Afinal, não
respondia “Fortaleza” quando lhe perguntavam de onde vinha? E como odiava
aquelas perguntas. “Quais locais devo ir lá? ” “O que tem para se conhecer na
sua cidade? ”.
- Com
licença, que horas são moço? – Perguntou uma senhora sem tirar o canudo da água
de coco da boca.
- Oito e
Vinte.
Interrompido
de seus pensamentos, decidiu voltar. Tinha saído para conhecer mais da cidade e
acabou por descobrir curiosidades sobre si mesmo. Embora houvesse percebido que
odiava determinadas perguntas que lhe arranjavam, odiava ainda mais as que ele
mesmo se fazia.
Riba(mar)
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