Eram dez
e meia, e a estática do ar estava repleta de expectativas e promessas. Eles
tinham que encontrar, às onze, uma amiga que os esperava numa das esquinas
perdidas da avenida paulista. Mas ainda havia tempo para se respirar um pouco
do ar que saia dos pulmões de cada um.
O quarto
11 ficava no térreo. Havia um ventilador de teto que girava fracamente quase
que desacelerando o tempo e enquanto girava fazia um leve barulho que trazia a
sensação de conforto. As luzes estavam apagadas, mas pela janela, ou o que
restava de frestas entre uma cortina e outra, a lua fingia-se de convidada e
invadia o quarto. Mas aqueles corpos pareciam emanar luz própria.
Lá fora,
o vento passeava frio e solitário. Gritando o lamento da solidão por entre
lacunas estreitas. O mundo permanecia vivo fora do número 11, mas existia uma
energia vital que se formava naquele espaço que ofuscava qualquer anúncio
externo.
Os toques
dados pareciam acender neles uma iluminação insana. Era quase um combustível
que estava sendo preenchido através de beijos que se tornavam mais densos, com
sensações que findavam o palpável. A
colcha trazia consigo o aviso de “100% algodão”, mas ela arranhava os dois como
se fossem pedras. O desejo perdia-se por entre as fissuras e fibras do tecido.
Único sobrevivente diante de tal encontro.
O
despertador tocou às 23:00 como um pressagio do fim ou iminência de novos
começos. Calçaram as botas como se disputassem quem calçaria primeiro. E saíram
na pressa batendo a porta atrás de si e rodando a chave três vezes com um único
movimento de mão.
Caminharam
pela rua. O vento que passou na avenida, os viu de mãos dadas, correu em
direção a eles e pareceu lhes cortar a face. Tudo dava indícios que a madrugada
seria uma das mais frias. Sorte dos dois que possuíam com o que aquecer-se.