Uma vez
um amigo me disse que gostava de viajar e dormir no percurso. Pelo que me
confidenciava, sentia-se confortável na ideia do seu corpo estar em constante
deslocamento até quando sua mente estava inconsciente e acordar sempre em
locais mais distantes do início. De se deparar com novas paisagens e dar
abertura ao que pudesse ser criado dentro do seu imaginário.
Em
questão de segundos, ao ouvir aquelas palavras, comecei a recordar de todas as
vezes que meu corpo viajou enquanto eu dormira e despertara em deslocamento.
Sem ter tido consciência de que antes de tudo, era e sou constante viagem de
mim mesmo.
Comparando
o seu sono aos momentos em que me desligo ou aos momentos que me perco no
silêncio entre uma ideia e outra. Sinto que gosto de viajar nessas estradas que
minha mente oferece, de parar nas ideias que parecem ter sido frutos de pneus
furados desse veículo pulsante que é a minha imaginação e trocar os pneus
antigos por novos e prosseguir em novos raciocínios.
Gosto de viajar
por dentro de mim sem datas para regresso, sem segundas-feiras ou compromissos.
De dormir à noite imerso nas minhas problematizações e no dia seguinte perceber
que esta viagem é constante – diária. Acho que parei de procurar respostas no
deslocamento físico e procuro sentido nas perguntas e nas mudanças que o
pensamento traz.
Cada vez
que me percebo ou dou conta de onde estou, assim como meu amigo que se encontra
em novos locais, percebo que posso estar perto ou distante de mim mesmo,
dependendo do humor. As vezes distante de problemas, outras perto de repostas.
Ou vice-versa. No passaporte do meu autoconhecimento, já tive vários carimbos.
Mas assim como o mundo, há sempre locais a serem explorados, e da bagagem de
conclusões que acumulei sempre deixo espaço na bagagem para as futuras viagens.
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