domingo, 2 de agosto de 2015

Primeiro Cigarro


Antes de viverem o que viveram, Matheus não sabia verdadeiramente o que era fumar. Na vida, até então, já havia tido vários cigarros. Alguns demoraram a acabar, outros o queimaram - estes foram muitos. Houve os que o vento apagou mesmo quando tentava reacender. Alguns o deixaram calmo enquanto duraram, outros o fizeram perder o sono, mas, o cigarro que teve em uma madrugada de inverno com Luiz foi o mais genuíno.
Matheus sentia como se tivesse começado a tragar verdadeiramente naquela noite. Ele notava-se calmo, mas a percepção da grandiosidade dos efeitos veio na bituca. Foi enquanto dialogava com Luiz, em uma relação de intimidade que em nenhum momento pareceu forçada.
Na volta, Luiz dirigia enquanto a fumaça preenchia o espaço que os separavam. Matheus ascendeu um cigarro e observava ele sugando e queimando o que havia entre as mãos assim como fez com tudo o que foi dele naquela noite. A velocidade com que Luiz dirigia diminuía a cada placa, fato ao qual Matheus associou os beijos trocados, que transmitiram a ideia de que aquela noite não deveria ter fim. E se tivesse, que fosse daqueles em aberto onde o leitor possa imaginar vários desfechos.
Dentro de Matheus havia um desejo de que o tempo parasse da mesma forma como a atenção dele estacionava naquele ser ao seu lado. Desejou que realmente parasse por instantes suficientes para que eles tivessem tempo de contar todas marcas de nascença do corpo um do outro. Para que eles pudessem apreciar a forma como os sorrisos iam de encontro com as piadas que trocavam. Para que cessasse e ele pudesse ler toda a história de Luiz, histórias estas escritas dentro deles e só transmitidas pelo diálogo, pelo que se leu dos pensamentos em voz alta entre uma tragada e outra.
Diante de tantos pensamentos, sua mente começou a aquietar-se. O cigarro que ele tinha na mão estava chegando ao fim e ele não havia tragado uma vez sequer. Jogou pela janela junto com a tentativa de conter o medo que se formava por talvez não viver novamente nada parecido. Tentou sorrir, e seu sorriso pareceu um lamento. Luiz o perscrutou e quis saber se estava tudo bem.
– Sim – respondeu – Percebi que você foi o meu primeiro cigarro.
O ar entrava, mas a plenitude estava além da nicotina, ou qualquer substância. Estava em um ser.   

3 comentários:

  1. Quando a coisa toda acontece pela primeira vez.

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  2. Um elemento tão simples usado pra simbolizar algo tão complicado, tive vontade de acender um cigarro quando terminei de ler

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