quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Visita

 O impedimento artístico parou para uma visita. Entrou como se fosse um conhecido que há muito não se via, sentou-se à mesa, puxou o café e ficou como quem não quer nada. Mas conseguiu roubar minha atenção, minha inspiração e a vontade de continuar o que estava fazendo no momento em que chegou.
Ele encara e sinto-me exposto. Às vezes tudo o que eu queria era que fosse esquecido por ele, mas a verdade é que só somos esquecidos por aqueles que menos esperamos. Ele tenta ser engraçado, tirar o clima de tensão do ar... mas é uma visita incômoda. Tento fazer ele ir embora, coloco uma música para desanuviar os pensamentos, converso sobre temas enfadonhos, fecho a cara e tento colocar a vassoura detrás da porta do meu inconsciente, mas ele percebe.
Ele sabe quando não o quero e, por teimosia, brinca quando eu não estou no pique. Contamina-me por coisas que eu não sabia que estavam adormecidas em mim e que só ele pode canalizar com aquela visita.
É sempre um problema, o reconhecimento das normas de etiqueta e de todos aqueles valores aprendidos com a família ficam à beira do esquecimento. Você quer expulsar, mas é contra a ética ou qualquer conceito social.
De repente, depois que perco todas as esperanças de fazer com que ele perceba o quão inquietante pode ser, ele se levanta. Recolhe o casaco e o chapéu, termina o último gole de café e despede-se com um aceno breve.
A porta se fecha e parece que o alívio derruba a vassoura que ainda nem foi colocada, e você reconhece todos os ruídos ao redor. A música que estava perto do fim, após cansada de se repetir é substituída por outra mais alegre. As janelas abertas ganham um novo sentido e as metáforas aparecem como um pássaro que confundiu o seu ninho e, após de muito voar, retorna.
Depois de um tempo você se pergunta por onde anda, pois passar a vida sem certos incômodos é ir contra o destino. Mas você se acalma, e produz o quanto pode. Fica feliz com uma frase, depois com duas. Café é pouco para o que você pretende sentir e expulsar tudo o que chega.

No ápice, a campainha toca. E você com um sorriso no rosto abre a porta e o saúda com felicidade, pois, desta vez, você acabou de terminar um texto.

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