Antes de
começar a escrever, lembro de ter me perdido inúmeras vezes nos escritos de
outros autores. Passava horas admirando blogs que tinham escritas próximas ao
que eu sentia. Me encontrava nos textos de desconhecidos em algum Tumblr
perdido ou habitava crônicas de jornais e contos por serem fugas rápidas para
momentos que não dispunha de tempo para leituras maiores.
Lia estes
textos admirando as construções frasais. Absorvia as metáforas como peneiras,
deixando as palavras presas na rede e os sentimentos atingindo o outro lado. Passava
dias com aquelas palavras a secar. Na peneira que se tornou meus pensamentos existem
frases que permanecem até hoje.
Sempre
tive receio em começar a sentir com as palavras. Acreditava que os autores
deveriam escrever apenas daquilo que viviam. Pelo menos os autores que não
criavam histórias fantásticas e se baseavam em construir suas escritas através
do comum, do cotidiano. Em parte, estava enganado.
Aos
poucos as palavras foram surgindo. Acordava pela manhã e imaginava que a forma
como o sol desenhava pela minha janela faria um alguém que eu ainda não tive a
oportunidade de conhecer ou criar, pensar sobre sentidos para dar a forma como
enxerga o mundo.
Fui vivendo e conhecendo pessoas que realmente me inspiravam, que me causavam sentimentos e me faziam viver emoções que me transportavam para a situação que o sentimento pedia.
Fui vivendo e conhecendo pessoas que realmente me inspiravam, que me causavam sentimentos e me faziam viver emoções que me transportavam para a situação que o sentimento pedia.
Nem
sempre essas situações que aprendi a descrever foram reais. No fundo, são
combinações de tudo o que já imaginei, sonhei, vivi e ainda vou viver. É uma
tentativa de criar um lado poético até para coisas que de tão cruéis
amarguraram dias e até meses. É uma forma de potencializar, a meu ver,
situações. É traduzir às cegas em forma de palavras as sinapses – muitas vezes
falhas – da emoção.
Ao
terminar um texto, percebi que a ideia inicial e o sentimento retratado diferem
muitas vezes do que eu escrevi, e que estive sendo falso, pois acabei
escrevendo de sentimentos que não vivi. Acabei por fazer quem me lê acreditar
que estou passando por tudo o que escrevo. Contudo, no fundo tudo foi criado, mas
foi culpa da inspiração.
Esta vem
e me usa. Me faz falsear e inventar situações. Me faz descobrir novos
sentimentos. Me faz dar sentidos que não conheço às palavras e que passo a entender
depois que vomito metáforas. Esta que aparece inquieta e se dá em todos os
momentos, em todas as situações.
Ao culpar
a inspiração não retiro minha parcela de culpa nessa produção. Afinal, eu sou
meio e canal. Sou filtro. Sou mediador. Decido o que fica e o que sai. Mas
tenho a mania de atuar. Tenho mania de usar o texto como teatro e através desse
palco conduzir a atenção e fazer quem ler sentir. Se de fato isso eu consegui,
apenas esperarei as cortinas fecharem pois se houve emoção, mesmo que não tenha
acontecido, para o leitor foi real.
nunca li um texto que me fez tanto sentido como este.
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